segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que falta para o Brasil ser mais Portugal e o que falta para Portugal ser mais Brasil


Depois de mais de um ano vivendo em Portugal, a minha volta ao Brasil não poderia deixar de ser cheia de questionamentos sobre a diferença de vida nos dois países. Entre comparações e análises, fiquei pensando o que seria da mistura entre Brasil e Portugal. Batendo as duas nações no liquidificador, o resultado deve ir além do Cristo Redentor de bigode, ou de um fado com o balanço do samba.


Deixando o liquidificador de lado, peguei-me pensando: “o que falta para o Brasil ser mais Portugal e o que falta para Portugal ser mais Brasil?”. Aí vão as minhas análises...

O que falta para o Brasil ser mais Portugal

Além do fado e do bacalhau, falta ao Brasil uma dose bem generosa de EDUCAÇÃO. E eu não me refiro à educação escolar, não. O que falta aos brasileiros é a educação para a cidadania. É respeitar as leis de trânsito, é parar o carro para o pedestre atravessar a rua, é manter a cidade limpa, enfim, é zelar mais e melhor pelo patrimônio da nação, e, mais do que isso, pelas pessoas que nela habitam. Se gentileza gera gentileza, educação previne a necessidade de gentileza: ela vem naturalmente.

EQUILÍBRIO. O Brasil é um país enorme e completamente heterogêneo. A diversidade faz do nosso país rico culturalmente. A diversidade é um ponto positivo, porém, a desigualdade não. Eu não vou ficar aqui falando das diferenças entre rico e pobre. Isso eu deixo para o pessoal que veio para salvar o mundo das cáries. O que eu vou falar é da falta de equilíbrio dentro do país. O negócio é o seguinte: o salário mínimo tupiniquim atual, reajustado em janeiro de 2012, é de R$ 622,00. Em uma cidade como São Paulo, em que um PF (prato feito, para quem não conhece a sigla) no boteco da esquina não sai por menos de “10zão”, como um cidadão vive com esse tal salário mínimo? Aí para estacionar o carro em qualquer rua de qualquer cidade grande o flanelinha de plantão vai te levar uns 20tão. Mas tudo bem, porque quem ganha um salário mínimo não tem carro, anda de busão e paga “3 real” pela passagem. Fala sério, né Brasil! E o melhor de tudo é que a gente paga caro por serviços de merda.  A gente paga caro pela falta de qualidade de vida. A gente paga imposto para rodar com os carros, e as ruas e estradas estão sempre esburacadas. A gente paga convênio médico particular porque os serviços de saúde pública são precários, e o nosso plano nunca cobre as nossas necessidades. A gente paga caro por serviços de telefonia, internet, televisão e afins e as empresas estão sempre desrespeitando nossos direitos, seja na prestação do serviço, seja no atendimento ao consumidor. A gente paga caro e nunca está contente.
Em Portugal, o salário mínimo também não é de se orgulhar, fica em 485 euros, um dos menores da União Europeia. Mas, em compensação, o custo de vida é bem mais baixo, por incrível que pareça, e a qualidade de vida é mil vezes superior. Os transportes têm mais qualidade, os serviços de telefonia têm custos mínimos, e as coisas são muito mais acessíveis ao consumidor: roupas, carros, eletrônicos, etc. A acessibilidade para o consumo de bens no Brasil está traduzida em “12 vezes sem juros no cartão”. O nosso Brasil é a exceção da regra para quem acha que as coisas são mais baratas em país de terceiro mundo. Barato é na Bolívia, no Brasil é tudo altamente inflacionado. E somos um povo feliz, apesar do desequilíbrio! A gente se vira na corda bamba, fala aí!

O que falta para Portugal ser mais Brasil

Antes de mais nada, recuso-me a citar clichês como samba no pé, animação, verão o ano inteiro, ou até mesmo novelas globais, ok? Então vamos ao que interessa.

FÉ. Falta fé ao povo português, e não é aquela fé religiosa, não. É a fé no sentido de acreditar. Vou explicar: nesse um ano que eu vivi em Portugal senti as pessoas um pouco desanimadas em relação ao futuro do país. As pessoas estão descontentes por causa da crise econômica, mas, mais do que isso, acho que elas estão é desoladas. O fato é que ninguém vê perspectivas de crescimento. A culpa geralmente é colocada nos políticos corruptos e no governo que deixou o país chegar nessa situação. Eu não tiro a razão dos portugueses, mas uma coisa é irrevogável: corrupção existe em tudo quanto é canto desse nosso mundo redondo. No Brasil, a corrupção é tanta que já faz parte do cotidiano do país. A gente ri para não chorar. Aliás, a gente ri porque certas situações são dignas de humorísticos, como o mensalão ou os dólares na cueca. Mas a gente não perde a fibra, e mais, a gente não perde a fé que o nosso país vai pra frente, mesmo com um montão de gente puxando ele pra trás. Então, o que eu acho que os portugueses precisam é tomar uma boa e farta dose de fé. Vamos acreditar pessoal. Já dizia o profeta: a fé move montanhas. Quem sabe ela também não ajuda a tirar o país do buraco?! Botem fé!



Depois de uma boa dose de fé, é preciso mexer o esqueleto, colocar a mão na massa, como se diz aqui no Brasil. É preciso pró-atividade. Só reclamar não resolve, acomodar-se com a situação, muito menos. Então, se você acredita que o seu país pode melhorar, trabalhe para isso. Tome a iniciativa. Nas eleições, não se acomode. Vá votar. Na escola, não empurre os estudos com a barriga. Aprenda o máximo possível e exercite seu aprendizado. Pratique o empreendedorismo. No trabalho, não faça só aquilo que te mandam. Seja pró-ativo, tenha iniciativa. O seu futuro é você quem constrói, não deixe ninguém dizer que você está fadado ao fracasso. Você não está. Nem o seu país. E lembre-se: é sempre tempo de recomeçar. Força, Portugal!

Por fim, retomando a ideia do liquidificador, misturamos educação+equilíbrio+fé+pró-atividade. O resultado dessa mistura toda eu deixo a critério da imaginação de vocês... E quem quiser acrescentar algum ingrediente, fique à vontade. Os comentários são todos seus.