segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Páscoa de bigodes

A Páscoa é uma data festiva portuguesa, com certeza. Religiosos, os portugueses celebram a data com fé e fartura. Cada cantinho do país tem a sua gastronomia e tradição típicas. Em alguns locais, a época é de cuidar da casa para receber o Compasso, ou Visita Pascal, quando o padre entra nas residências para abençoar os que ali moram. Na comida, para comemorar a ressurreição de Cristo, o que há de melhor deve estar na mesa: bacalhau, carnes e muitos doces.
Aqui no Brasil a gente tem a deliciosa tradição dos Ovos de Páscoa de chocolate. Lá em Portugal, os ovos são um pouco menos populares. Quem reina por lá são as amêndoas e o folar.
Preciso dizer que dá água na boca só de olhar?
Amêndoas
Para quem não sabe, a tradição dos ovos tem a ver com a simbologia cristã: o ovo remete ao nascimento, à vida. No início eram trocados ovos coloridos, pintados a mão, ou até mesmo de ouro. O chocolate, ao que me consta, foi uma invenção francesa, a qual sou eternamente grata. Mas, voltando a Portugal, as amêndoas, que lembram ovos pequenos, é o mimo preferido dos portugueses na Páscoa. Coloridas, com cobertura de chocolate, elas são uma delícia. Ano passado provei e presenteei mamis e minha madrinha, que foram me visitar na terrinha na época. Apesar de bem saborosas, ainda prefiro nossos tradicionais Ovos de Páscoa, que ano passado chegaram amassadinhos na mala, mas chegaram. Tão deliciosos como nunca!

Folar
O Folar é o tradicional Pão de Páscoa português. Podendo ser doce ou salgado, a ideia principal do Folar é a partilha e a confraternização. É um pão para dividir recheado de simbologia religiosa. Muitas vezes, além do recheio, o Folar é assado com um ovo inteiro, também simbolizando nascimento e vida. O costume são os padrinhos presentearem seus afilhados com esse pão aí. Tradição é tradição e a gente respeita, mas que é muito mais gostoso ganhar chocolates, isso é inegável, rs!

A Páscoa também é sinônimo de férias em Portugal - um pequeno recesso - e, mais do que isso, é quando a gente começa a esperar o verão mais ansiosamente. Na Páscoa, já costuma ser primavera, o sol tá mais quentinho e os dias mais coloridos. Se, para os cristãos, é a ressurreição de Jesus Cristo, para os portugueses é o renascimento do prazer de viver dias mais quentes, vibrantes e alegres.
Feliz Páscoa, Brasil! Feliz Páscoa, Portugal!
Que recomecemos a vida de um forma muito mais doce, seja com amêndoas, seja com ovos de chocolate!


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O galo elétrico e o carnaval em Portugal

Não é porque eu dei uma esticadinha na minha estadia em terras tupiniquins, que eu vou abandonar o blog. JAMAIS! Aliás, preciso até pensar em novos rumos para ele, depois que eu me estabilizar de vez para o Brasil. 

Como não poderia deixar de ser, o post da vez é sobre Carnaval. Esse ano, eu não participei do célebre carnaval lusitano, entretanto, não pretendo ignorar a presença deste no universo carnavalesco.

No Carnaval que passei em Portugal, em 2011, não vi nada de muito especial: uns desfiles infantis, com carros e crianças fantasiados, um pessoal insano correndo pelas ruas de Coimbra com fantasias inusitadas, gente bêbada, gente dançando, gente causando... enfim... essas coisas de carnaval. O que eu não vi foi só trio elétrico e desfile de escola de samba.

O trio elétrico eu até sugeri que fizemos em 2012. Em um brainstorm louco com uns amigos, chegamos a compor a ideia do Galo Elétrico: um carrinho de som com um galo de Barcelos como destaque. Com o nosso micro-trio, percorreríamos as ruas de Coimbra, dando voltas na Praça da República e nos aventurando pelas vielas da Sé Velha. Como eu adiei a minha ida a Portugal, o projeto ficou só no papel, aliás, no bate-papo do Facebook, e poderá ser posto em prática por qualquer pessoa sem planos de como curtir o carnaval na terrinha.
Bloco imaginário dos Galos de Barcelos
Quanto à presença de escolas de samba, de fato elas existem em Portugal e desfilam no Carnaval. Eu é que não fui ver. Reza a lenda que as passistas portuguesas desfilam seminuas, tal como as brasileiras, porém em um clima bem mais ameno que o do verão tupiniquim: tipo assim, uns 5 graus (ou menos!). Coragem é o que não falta para essas gajas, que além de correrem o risco de pegar uma pneumonia e terminar a folia no hospital, se aventuram a exibir todo-um-gingado-em-prol-do-samba aos olhos clínicos presentes.

E quem foi conferir de perto o samba no pé português foram os mesmos amigos que dividem comigo a idealização do Galo Elétrico. Os meninos, brasileiros com sede de samba, participaram do desfile das escolas de samba da Mealhada, uma cidadezinha próxima a Coimbra. Que disposição, não?! 

A tchurma, que já vinha participando de ensaios há cerca de um mês, representou o Grupo Recreativo Escola de Samba Batuque. Fantasiados de “conquistadores portugueses”, os meninos compuseram a comissão de frente do desfile, que tinha como tema “a época dos descobrimentos”. 

Além desta, outras três escolas participaram do VI Concurso de Escolas de Samba do Carnaval da Mealhada 2012: Samba no Pé, Amigos da Tijuca e Sócios da Mangueira. A verde-e-rosa de bigodes ganhou o Carnaval na terrinha e consagrou-se tri-campeã do Carnaval Luso-brasileiro da Bairrada.

 Grupo de Samba Sócios da Mangueira, tri-campeão do Carnaval da Mealhada

A Batuque, mesmo tendo a melhor bateria e a força dos amigos brasileiros, ficou em segundo lugar. Apesar do vice, Marlon, um dos participantes tupiniquins, declarou que a escola, e o carnaval da Mealhada, fizeram bonito: “Pensei que ia ser diferente do Brasil, mas não. Foi muito bom, o povo muito alegre. Apesar do frio, as pessoas estavam animadas”.

Se você também participou de alguma festa carnavalesca portuguesa, compartilhe aqui as suas impressões!

Um beijo e até a próxima, foliões!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O que falta para o Brasil ser mais Portugal e o que falta para Portugal ser mais Brasil


Depois de mais de um ano vivendo em Portugal, a minha volta ao Brasil não poderia deixar de ser cheia de questionamentos sobre a diferença de vida nos dois países. Entre comparações e análises, fiquei pensando o que seria da mistura entre Brasil e Portugal. Batendo as duas nações no liquidificador, o resultado deve ir além do Cristo Redentor de bigode, ou de um fado com o balanço do samba.


Deixando o liquidificador de lado, peguei-me pensando: “o que falta para o Brasil ser mais Portugal e o que falta para Portugal ser mais Brasil?”. Aí vão as minhas análises...

O que falta para o Brasil ser mais Portugal

Além do fado e do bacalhau, falta ao Brasil uma dose bem generosa de EDUCAÇÃO. E eu não me refiro à educação escolar, não. O que falta aos brasileiros é a educação para a cidadania. É respeitar as leis de trânsito, é parar o carro para o pedestre atravessar a rua, é manter a cidade limpa, enfim, é zelar mais e melhor pelo patrimônio da nação, e, mais do que isso, pelas pessoas que nela habitam. Se gentileza gera gentileza, educação previne a necessidade de gentileza: ela vem naturalmente.

EQUILÍBRIO. O Brasil é um país enorme e completamente heterogêneo. A diversidade faz do nosso país rico culturalmente. A diversidade é um ponto positivo, porém, a desigualdade não. Eu não vou ficar aqui falando das diferenças entre rico e pobre. Isso eu deixo para o pessoal que veio para salvar o mundo das cáries. O que eu vou falar é da falta de equilíbrio dentro do país. O negócio é o seguinte: o salário mínimo tupiniquim atual, reajustado em janeiro de 2012, é de R$ 622,00. Em uma cidade como São Paulo, em que um PF (prato feito, para quem não conhece a sigla) no boteco da esquina não sai por menos de “10zão”, como um cidadão vive com esse tal salário mínimo? Aí para estacionar o carro em qualquer rua de qualquer cidade grande o flanelinha de plantão vai te levar uns 20tão. Mas tudo bem, porque quem ganha um salário mínimo não tem carro, anda de busão e paga “3 real” pela passagem. Fala sério, né Brasil! E o melhor de tudo é que a gente paga caro por serviços de merda.  A gente paga caro pela falta de qualidade de vida. A gente paga imposto para rodar com os carros, e as ruas e estradas estão sempre esburacadas. A gente paga convênio médico particular porque os serviços de saúde pública são precários, e o nosso plano nunca cobre as nossas necessidades. A gente paga caro por serviços de telefonia, internet, televisão e afins e as empresas estão sempre desrespeitando nossos direitos, seja na prestação do serviço, seja no atendimento ao consumidor. A gente paga caro e nunca está contente.
Em Portugal, o salário mínimo também não é de se orgulhar, fica em 485 euros, um dos menores da União Europeia. Mas, em compensação, o custo de vida é bem mais baixo, por incrível que pareça, e a qualidade de vida é mil vezes superior. Os transportes têm mais qualidade, os serviços de telefonia têm custos mínimos, e as coisas são muito mais acessíveis ao consumidor: roupas, carros, eletrônicos, etc. A acessibilidade para o consumo de bens no Brasil está traduzida em “12 vezes sem juros no cartão”. O nosso Brasil é a exceção da regra para quem acha que as coisas são mais baratas em país de terceiro mundo. Barato é na Bolívia, no Brasil é tudo altamente inflacionado. E somos um povo feliz, apesar do desequilíbrio! A gente se vira na corda bamba, fala aí!

O que falta para Portugal ser mais Brasil

Antes de mais nada, recuso-me a citar clichês como samba no pé, animação, verão o ano inteiro, ou até mesmo novelas globais, ok? Então vamos ao que interessa.

FÉ. Falta fé ao povo português, e não é aquela fé religiosa, não. É a fé no sentido de acreditar. Vou explicar: nesse um ano que eu vivi em Portugal senti as pessoas um pouco desanimadas em relação ao futuro do país. As pessoas estão descontentes por causa da crise econômica, mas, mais do que isso, acho que elas estão é desoladas. O fato é que ninguém vê perspectivas de crescimento. A culpa geralmente é colocada nos políticos corruptos e no governo que deixou o país chegar nessa situação. Eu não tiro a razão dos portugueses, mas uma coisa é irrevogável: corrupção existe em tudo quanto é canto desse nosso mundo redondo. No Brasil, a corrupção é tanta que já faz parte do cotidiano do país. A gente ri para não chorar. Aliás, a gente ri porque certas situações são dignas de humorísticos, como o mensalão ou os dólares na cueca. Mas a gente não perde a fibra, e mais, a gente não perde a fé que o nosso país vai pra frente, mesmo com um montão de gente puxando ele pra trás. Então, o que eu acho que os portugueses precisam é tomar uma boa e farta dose de fé. Vamos acreditar pessoal. Já dizia o profeta: a fé move montanhas. Quem sabe ela também não ajuda a tirar o país do buraco?! Botem fé!



Depois de uma boa dose de fé, é preciso mexer o esqueleto, colocar a mão na massa, como se diz aqui no Brasil. É preciso pró-atividade. Só reclamar não resolve, acomodar-se com a situação, muito menos. Então, se você acredita que o seu país pode melhorar, trabalhe para isso. Tome a iniciativa. Nas eleições, não se acomode. Vá votar. Na escola, não empurre os estudos com a barriga. Aprenda o máximo possível e exercite seu aprendizado. Pratique o empreendedorismo. No trabalho, não faça só aquilo que te mandam. Seja pró-ativo, tenha iniciativa. O seu futuro é você quem constrói, não deixe ninguém dizer que você está fadado ao fracasso. Você não está. Nem o seu país. E lembre-se: é sempre tempo de recomeçar. Força, Portugal!

Por fim, retomando a ideia do liquidificador, misturamos educação+equilíbrio+fé+pró-atividade. O resultado dessa mistura toda eu deixo a critério da imaginação de vocês... E quem quiser acrescentar algum ingrediente, fique à vontade. Os comentários são todos seus.